quarta-feira, 28 de outubro de 2009

PRE SAL: INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA O PETRÓLEO (PRIMEIRA PARTE) - Wladmir Coelho

De:
Wladmir Tadeu Silveira Coelho
Para:
Dr. Edson Paim
Assunto:
PRE SAL
Data:
26/10/2009 20:12

INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA

O PETRÓLEO (PRIMEIRA PARTE)

Wladmir Coelho*

Mestre em Direito Historiador

Conselheiro da Fundação Brasileira de Direito Econômico

Após o anúncio da descoberta do campo de Tupi (bacia de Santos) em 2007 um novo termo passou a ser utilizado nas discussões relativas à exploração do petróleo: O pré-sal. Tratam-se de campos petrolíferos cuja quantidade de petróleo ainda não foi calculada de forma definitiva em uma área de 800 km do Espírito Santo a Santa Catarina. Quando afirmo que a quantidade de petróleo existente no pré-sal ainda não foi definitivamente calculada faço considerando as informações disponíveis na imprensa e órgãos do governo cujo total estimado estaria entre 9 bilhões e 14 bilhões existindo noticias de algo em torno de 70 bilhões de barris.

Como resultado desta descoberta não observamos debates em torno da propriedade deste mineral tratado naturalmente como pertencente à União deixando de forma clara que no Brasil não existem dúvidas quanto a propriedade do bem petróleo que desde a Constituição de 1934 pertence à União. Entretanto precisamos observar a dupla dimensão desta condição de “bem” reservada aos minerais de um modo geral dividindo-se este em bem natural enquanto no subsolo e bem econômico a partir de sua exploração.

Assumir a propriedade do bem econômico petróleo, desta forma, implica necessariamente em uma atividade empresarial e neste ponto encontramos a primeira divergência relativa ao modelo a ser adotado para o pré-sal. Temos neste caso uma fundamentação ideológica para o debate – o pensamento liberal clássico - no qual a existência de um Estado entendido como agente econômico é rejeitada reservando às atividades produtivas ao setor privado.

Considerando este principio teríamos a exploração do petróleo a partir das necessidades ou capacidade do setor privado segundo regras do mercado cuja eficiência é medida através do lucro. Temos neste caso – a negação da presença do Estado como agente econômico - uma leitura marcadamente ideológica formulada a partir das características econômicas do século XVIII. Agora devemos prestar atenção no seguinte ponto: O exercício das regras mercadológicas para o setor energético jamais excluíram a presença do Estado como elemento regulador e financiador. Adam Smith em seu Inquérito sobre as causas da riqueza das nações entendia – por exemplo- a necessidade de subsídio estatal para a exploração do carvão mineral e ainda tratava de restringir esta liberdade empresarial quanto à exportação deste mineral.

Versando-se a respeito do petróleo os Estados Unidos – país no qual originaram-se as primeiras atividades economicamente viáveis para exploração deste recurso mineral - o Estado seguiu esta regra e manteve-se afastado da atividade econômica direta, mas subsidiou (e até este ano ainda o faz) as empresas petrolíferas nacionais.

A exploração dos recursos energéticos, assim observado, mereceu dos governos uma atenção especial através da elaboração de políticas econômicas e estas, por sua vez, apresentam variações de acordo com as necessidades locais partindo do financiamento ou subsídio, participação da gestão das empresas ou entendendo como necessário a presença do Estado como agente econômico criando empresas mistas ou estatais para o setor.

Todo este cuidado com a utilização das fontes de energia (e neste momento estamos tratando do petróleo) tem como objetivo a utilização plena do poder econômico gerado a partir de sua exploração. Historicamente vamos localizar no final do século XIX o início da exploração comercial deste mineral saltando em pouco tempo de sua condição de matéria prima de graxas das engrenagens das máquinas a vapor e óleos para iluminação pública para principal recurso energético mundial.

O controle do petróleo – em nosso tempo – transforma-se, desta forma, em uma das principais demonstrações de poder político e econômico colocando seus detentores em condições de vantagem diante daqueles não possuidores do mineral ou dos meios tecnológicos para sua exploração.

Em momento anterior a ampliação do uso do petróleo Friedrich List – em meados do século XIX – defende a necessidade da presença do Estado na condição de organizador da política econômica atribuindo aos minerais (incluindo os energéticos) um papel estratégico condicionando sua exploração não somente as necessidades do mercado e sim as necessidades de um Sistema Nacional de Política Econômica.

Vejamos desta forma entre o pensamento de List e Smith a fundamentação para as diferentes políticas econômicas do petróleo adotadas desde o final do século XIX até nossos dias. Smith em defesa do subsídio como forma de garantir a presença privada no setor e List entendo como função do Estado a organização deste setor visando a satisfação plena do sistema econômico nacional.

A POLÍTICA ECONÔMICA DO PETRÓLEO NO BRASIL

O professor Washington Albino recomenda para entendimento das diferentes políticas econômicas do petróleo o estudo do conteúdo econômico das constituições e no Brasil republicano, a exceção do texto de 1891, encontraremos uma tendência intervencionista possibilitando ou tendendo a criação de um sistema econômico nacional considerando-se o fato propriedade do subsolo para a União.

No caso brasileiro não podemos nos esquecer da condição periférica de nossa economia aliada ou proporcionada em função de nossa tradição colonial, assim a política para o petróleo nacional estará – em muitos momentos – submetida aos interesses externos implicando na implementação da política econômica da empresa petrolífera privada em detrimento dos interesses nacionais.

Deste modo observaremos durante a primeira república o direito de propriedade do subsolo (ascensão) aplicado como forma de preservação de produção da quantidade de petróleo existente para comercialização no mercado mundial atuando os grupos empresariais no sentido de impedir a exploração petrolífera nacional através da compra de áreas com potencial produtivo.

Pandiá Calógeras percebeu esta limitação e propôs em 1915 (através da lei Calógeras) uma modificação do papel do Estado defendendo a necessidade da intervenção direta deste no setor produtivo iniciando a exploração mineral – incluindo o petróleo - quando negligenciado pelo setor privado. Outro defensor desta participação empresarial do Estado foi Arthur Bernardes alterando a Constituição em 1926 e permitindo ao Estado intervir de forma mais incisiva na questão mineral quando do interesse da defesa e segurança nacional.

Todavia localizaremos a efetivação de uma de uma política econômica intervencionista a partir de 1934 quando a Constituição passa a reservar para a União a propriedade do subsolo criando-se neste mesmo o ano o primeiro Código de Minas. Neste documento o Estado permaneceria afastado da atividade econômica fato que somente ocorreria a partir de 1953 através da lei 2004 que criou a Petrobrás.

A aprovação da referida lei caracteriza um dos momentos mais ricos da história do Brasil quando diferentes setores sociais mobilizam-se em torno de um debate no qual colocava-se em questão a possibilidade de controle efetivo da produção de petróleo. O debate seguiu exatamente o formato que percebemos atualmente, ou seja, não havia uma maior discussão quanto à legitimidade da propriedade estatal do subsolo, mas questionava-se a propriedade do bem econômico. Por outro lado colocava-se em dúvida a capacidade intelectual e financeira do Brasil para gerir este tipo de atividade.

Em Minas Gerais – o professor Washington Albino – elabora a Tese Mineira do Petróleo – documento que recebe o apoio da Associação Comercial defendendo a legitimidade do Estado como agente econômico através da criação de uma empresa estatal que seria responsável por todo processo produtivo do mineral da pesquisa a distribuição. Um detalhe importante: Os recursos para criação da empresa – explicava o documento apoiado por empresários- seria obtido através de uma contribuição de intervenção no domínio econômico.

A Petrobrás não nasce com este perfil e sim como empresa mista, mas temos uma empresa para executar a política econômica do petróleo nascida para garantir a auto-suficiência. Este foi o objetivo de criação da Petrobrás a sua presença justifica-se como elemento executor de um plano para o crescimento e desenvolvimento nacional. A grande pergunta neste momento é: A Petrobrás teria terminado a sua função?

Para cumprir seus objetivos a Petrobrás através da lei 2004/53 recebeu a condição de executora do monopólio, todavia em diferentes momentos esta condição sofreu modificações destacando-se a prática implementada durante a ditadura militar na qual o Estado intervencionista e empresarial contribuiu para a desnacionalização da indústria.

O contrato de risco – durante a ditadura – simboliza este momento quando a Petrobrás torna-se uma empresa internacional passando a explorar fora do Brasil voltando-se ao mesmo tempo para a pesquisa e exploração na plataforma continental permitindo o retorno das empresas privadas para pesquisa em terra. Esta formula permanece até a Constituição de 1988 com a retomada do monopólio.


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Wladmir Coelho

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Relator do projeto que cria a Petro-sal apresenta parecer


Agência Brasil/IZ

O deputado Luiz Fernando Faria (PP-MG), relator do projeto de lei do Executivo que cria a Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S/A (Petro-sal), apresentou há pouco seu parecer à proposta para apreciação da comissão especial que analisa a matéria na Câmara. Segundo ele, foram feitas algumas modificações para aperfeiçoar o projeto original. Entre elas, o relator propõe que os conselheiros da futura estatal, que terão gestão de quatro anos, sejam reconduzidos ao cargo apenas uma vez.

Em seu parecer, Faria também estabelece que as decisões colegiadas da diretoria executiva da Petro-sal devem ser tomadas por maioria absoluta dos seus membros, desde que estejam presentes no mínimo três quintos deles na reunião. Ele incluiu ainda, na proposta, a obrigatoriedade de que seja dada publicidade na internet, ao final de cada exercício social, às demonstrações financeiras da estatal.

Além disso, o relator proíbe a criação de novos escritórios da estatal e mantém no texto que a sede e foro da empresa será em Brasília, com escritório central no Rio de Janeiro. De acordo com Faria, a Petro-sal terá um estrutura enxuta, com cerca de 120 funcionários.

Quanto ao nome da estatal, que está sendo questionado por uma pessoa que alega ter o seu registro, Faria diz que o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) está negociando a manutenção da marca Petro-sal. Segundo o relator, caso não seja feito um acordo, o nome será alterado quando a proposta for discutida no Senado.

O parecer de Faria deverá ser votado na próxima terça-feira (3), uma vez que houve pedido de vistas coletivo da matéria. O projeto que cria a Petro-sal é um dos quatro que foram enviados pelo governo para regulamentar a exploração da camada pré-sal. A previsão é eles que sejam levados à votação no plenário da Câmara a partir do dia 10 de novembro.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

CONVITE PARA DEBATE NA UFMG PRÉ-SAL

De:
Wladmir Coelho
Para:
wladmir-coelho@ig.com.br
Assunto:
CONVITE PARA DEBATE NA UFMG PRÉ-SAL
Data:
13/10/2009 17:46

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Politica Econômica do Petróleo

http://politicaeconomicadopetroleo.blogspot.com/

Estudantes da Faculdade de Direito da UFMG debatem o pré-sal

O Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP) da Faculdade de Direito da UFMG – com apoio da Fundação Brasileira de Direito Econômico – promove no próximo dia 19 às 9 horas um seminário para analisar o projeto de lei para o pré-sal. Participam do evento o deputado Sávio Souza Cruz (presidente da Comissão de Minas e Energia e Comissão Especial do Pré-sal) o especialista em Política Econômica do Petróleo prof. Wladmir Coelho e o Cientista Político e professor da UFMG Fernando Massote. Os estudantes, após o seminário, pretendem reinaugurar o monumento em homenagem a campanha “O Petróleo é Nosso” que encontra-se na Praça Afonso Arinos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Gabrielli fala em oposição 'atordoada' e defende Petrobras como operador único

GIULIANA VALLONE
da Folha Online

O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, afirmou nesta terça-feira, em sabatina da Folha que a oposição está "atordoada" com os projetos apresentados pelo governo para o marco regulatório do pré-sal. 'Eles [oposição] não têm posição de confronto. Todas as emendas feitas aos projetos são pontuais. Nenhuma é confrontante', afirmou.

Ele admitiu que o petróleo é uma bandeira política no país. "É uma boa bandeira política, sempre foi. Porque ele é a característica fundamental da vida moderna. Por isso tem guerra por causa dele, por isso é tão relevante política e eleitoralmente", disse.

Gabrielli defende incentivos para aumentar competitividade da indústria
Petróleo é usado como bandeira política, diz Gabrielli
Petróleo a US$ 65 garante plano de investimentos da Petrobras, diz Gabrielli
Entenda o que é a camada pré-sal

Gabrielli voltou a defender o papel da Petrobras como operador único dos blocos do pré-sal. Os projetos de lei criados pelo governo determinam que a empresa estatal seja operadora de todos os blocos, e tenha uma participação inicial de 30% em cada um deles.

Além disso, a empresa poderá competir com as concorrentes pelos outros 70%. Toda a operação será regulada por uma nova companhia a ser criada, que ficou conhecida como Petro-sal.

"Se o Congresso aprovar os projetos, a Petrobras será operadora de 100% do pré-sal. Mas isso não quer dizer que será a única. Ela terá 30% de investimento mínimo, e as outras empresas podem entrar com os outros 70%", disse o executivo. Segundo ele, a vantagem principal de ser operadora única é o conhecimento que a empresa adquire com a atividade.

Ele ressaltou ainda que, mesmo que alguns poços não sejam 'tão rentáveis', 'se a alguma empresa fosse oferecida a oportunidade de ser operador único, de explorar cinco bilhões de barris e de explorar o pré-sal, duvido que qualquer uma no mundo recusasse'.

Risco mínimo

O presidente da Petrobras defendeu que o risco de exploração nos campos do pré-sal é mínimo e, justamente por isso, a regulação do setor deve ser alterada. "A regra atual privilegia quem assume mais risco", disse.

De acordo com ele, de 47 poços do pré-sal perfurados, foi encontrado petróleo em 41. "Desses, 13 foram perfurados com o objetivo de atingir a camada pré-sal. Nesses 13, a taxa de acerto foi de 100%", disse. "Considerando os 47, a taxa de acerto foi de 87%, enquanto a média mundial é de 25%. Ou seja, a nossa taxa é três, quatro vezes maior que a média mundial. É um fato geológico."

No evento, Gabrielli defendeu também os incentivos do governo federal para que as empresas instaladas no Brasil possam competir com as estrangeiras na produção de equipamentos para a exploração, aumentando a participação de empresas brasileiras no pré-sal.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, foi encarregado de montar uma política industrial para a exploração do petróleo do pré-sal. O objetivo é que, em três anos, dois terços dos equipamentos sejam produzidos no Brasil.

Capitalização

Gabrielli comentou também o projeto que trata da capitalização da Petrobras. Segundo ele, o governo vai ceder a exploração de 5 bilhões de barris do pré-sal à companhia, que, em um segundo momento, emitirá ações. Todos os acionistas poderão comprar esses papéis, mas a Petrobras devolverá ao governo --maior acionista da empresa-- tudo o que for pago por ele em troca das ações. Ou seja: o governo vai aumentar sua participação na empresa sem gastar recursos.

"O efeito da operação no deficit público é zero. No final do dia, o que o governo perdeu para abrir mão da exploração desses barris, ele vai ganhar em ações. A operação se completa inteiramente", disse. O dinheiro colocado pelos outros acionistas será utilizado para capitalizar a Petrobras, assim como os recursos obtidos com a exploração dos barris.



O presidente da companhia ressaltou que a emissão de ações vai envolver apenas os atuais acionistas da Petrobras o que dificulta, de acordo com ele, a utilização do FGTS para que os detentores do Fundo comprem os papéis.

"Há duas assimetrias nessa proposta: a primeira é permitir que quem tem FGTS compre os papéis e outras pessoas que querem ser acionistas da empresa não. E a segunda é, dentro do FGTS, as pessoas que já são acionistas poderem usar mais recursos do Fundo e os outros não", disse.

Segundo Gabrielli, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) já está perfurando dois poços do pré-sal para definir de onde virão os 5 bilhões de barris para a capitalização. O presidente da empresa não afirmou, porém, quais são eles.

Sabatina

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